domingo, 26 de outubro de 2008

O impasse da política monetária brasileira diante da crise

O cenário é de crise, com os Bancos Centrais de diversos países lançando mão das mais diversas ferramentas para contornar a ameaça de recessão. Neste mês de outubro, os juros passaram de 2% para 1,5% nos Estados Unidos e de 5% para 4,5% na Inglaterra; o Banco Central Europeu também resolveu cortar a taxa de 4,25% para 3,75%. Os percentuais baixos refletem uma história bem diferente da brasileira, de potencial falta de consumo no lugar da ameaça inflacionária, como se estivéssemos falandode duas pontas opostas em uma mesma linha. Confuso? Nem tanto assim. O que acontece é que com uma ameaça de recessão batendo às portas das principais economias do globo, como as já citadas, o consumo tende a diminuir e os governos precisam de alguma maneira impedir que isso tome proporções desastrosas. Uma das formas de fazer isso é mexer na taxa de juros, já que com juros mais baixos o crédito fica mais barato bem como os preços dos diversos produtos (incluindo casas, automóveis, varejo...), atraindo as pessoas para as compras.Por aqui, há muito pouco tempo, o que mais se indagava sobre os mecanismos de ajuste da economia brasileira é se o BC elevaria ainda mais os juros no País para conter a inflação. Isso porque um processo de amplo financiamento aliado a crédito fácil levou as pessoas a consumirem demais. E com pouca oferta e muita demanda, os preços começaram a subir. Dessa forma, a taxa básica de juros conhecida como Selic funcionaria como um obstáculo para os preços altos. Importante ressaltar, que essa situação de controle inflacionário com ajustes dos juros para cima é historicamente comum na economia brasileira. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano.Agora, porém, o Brasil se encontra em cima do muro. Em um momento em que ainda tenta conter a inflação, diminuindo prazos de financiamento e tornando o crédito menos disponível, também precisa estar de olho no que acontece ao redor do mundo, quando o objetivo é exatamente aumentar a liquidez e a conseqüente circulação do dinheiro. A diferença é que nos outros países, ao contrário daqui, os juros já estão em níveis baixíssimos.Para o economista da WinTrade, José Góes, a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) será uma das mais difíceis. “O Banco Central tem demonstrado preocupação com a inflação em todas as atas divulgadas, por outro lado, está presenciando uma desaceleração mundial que provavelmente causará uma desaceleração interna, resolvendo parte dessa inflação. É provável que o Copom mantenha a taxa como está ou aumente de leve em 0,25 p.p. sinalizando que o ciclo de altas está se encerrando”, comenta. Uma coisa é certa, para entender o cenário atual é preciso pensar em dois panoramas: um interno, outro externo; e como acontece com a inflação e o crescimento – variáveis que estão atreladas naturalmente e precisam de limites para não sair do controle -, o Brasil deve lidar com ferramentas antagônicas e necessárias para se manter sólido no meio do furacão.

Fonte: Wintrade

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