segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Bom Gosto avança no mercado

Capitalizada após a fusão com a Líder Alimentos, operação que contou com aporte do BNDESPar, a Laticínios Bom Gosto acaba de adquirir da Parmalat a fábrica de Garanhuns (PE), por R$ 31 milhões. A expectativa do presidente e fundador da empresa, Wilson Zanatta, é que a unidade pernambucana gere uma receita anual de R$ 100 milhões, que vai se somar às R$ 1,5 bilhão projetadas para a companhia gaúcha este ano.

Com apenas 15 anos, a Bom Gosto, que tem sede na cidade de Tapejara, chama a atenção no setor de lácteos nacional por sua agressividade. Antes da fusão com a Líder, em novembro do ano passado, a empresa já tinha adquirido o controle da Nutrilat e da Corlac, no Rio Grande do Sul, e do Laticínios DaMatta e Laticínios Santa Rita, ambos em Minas Gerais, em 2007. A empresa também constrói laticínio no Uruguai, com investimentos de US$ 30 milhões.

"Após a fusão com a Líder e o aporte do BNDES, a empresa ficou capitalizada e existe possibilidade de crescimento", afirma Zanatta, um veterinário filho de produtor de leite, visto como audacioso por seus concorrentes. Ele acrescenta que a companhia sempre avalia "oportunidades de investimento".

Mas Zanatta mantém a cautela em relação ao comportamento do mercado de lácteos, que está abastecido no front doméstico e tem estoques elevados e preços baixos no exterior. "[O mercado] deve melhorar quando a crise acabar, em 2010, 2011", torce o empresário.

Em agosto de 2007, a Bom Gosto já tinha recebido um aporte de R$ 45 milhões do BNDESPar, que deu ao braço de investimento do banco de fomento uma participação de 23% no laticínio. Na operação para fusão com a Líder, o banco fez outro aporte, de valor não revelado, e ficou com uma participação de 34,6% no capital da nova empresa, conforme a assessoria de comunicação do BNDES.

Wilson Zanatta afirma que a aquisição da fábrica de Garanhuns é importante na estratégia da empresa, já que o Nordeste é uma das regiões onde mais cresce o consumo de alimentos no país. A empresa, que ainda não tinha operação no Nordeste, atendia aquele mercado com produtos de suas unidades em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A partir de agora, vai produzir na fábrica de Garanhuns, que tem capacidade de processamento de 500 mil litros/dia, itens como leite longa vida, leite tipo C, iogurte e creme de leite.

A planta pernambucana também tem equipamentos para produção de leite em pó e condensado, mas por enquanto, esses itens não serão fabricados na unidade, e a Bom Gosto continuará fornecendo para o Nordeste a partir do Rio Grande do Sul. Além da fábrica de Garanhuns, o negócio entre Bom Gosto e Parmalat inclui nove postos de captação localizados em Tapejara (RS), Enéas Marques (PR), Monte Castelo (SP), Exu (PE), Ipira (BA), Alegre (ES), Jacaré dos Homens (AL), Santa Cruz de Goiás (GO) e Itarumã (GO).

Segundo Zanatta, hoje Garanhuns processa 150 mil litros de leite por dia, mas chegou a captar 300 mil litros até meados do ano passado. As dificuldades da Parmalat, porém, levaram a uma redução no número de produtores que entregavam leite à unidade. De cerca de 900, restaram 600. "Esperamos voltar a captar 300 mil litros em um ano", afirma Zanatta.

A Bom Gosto espera recuperar a bacia leiteira da região, onde deverá, segundo analistas do setor de lácteos, enfrentar forte concorrência com a Perdigão, que começará a operar no segundo semestre a planta de Bom Conselho, a cerca de 40 quilômetros de Garanhuns.

A empresa passará a operar, com a nova aquisição, 19 unidades industriais nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. A captação de leite da empresa hoje, após a fusão com a Líder, é de 3 milhões de litros por dia ou 1,1 bilhão por ano.

Enquanto a Bom Gosto avança e se prepara para começar a exportar leite em pó e condensado este ano - com a entrada em operação de uma nova fábrica em Tapejara - a Parmalat, controlada pela Laep Investments, segue tentando fazer caixa com a venda de ativos. Antes de se desfazer de Garanhuns, já tinha vendido a recém-comprada Poços de Caldas e suspendido as operações em unidade de Ouro Preto d'Oeste (RO) e de uma planta arrendada em Frutal (MG).

Em nota, Laep disse que a decisão vender a fábrica de Pernambuco e as unidades de captação de leite "faz parte do processo de reestruturação organizacional implementado pela direção da Parmalat, empresa em processo de recuperação judicial". O foco da empresa é reduzir custos e "aumentar a eficiência operacional, criando condições para que a empresa possa melhorar sua geração de caixa". A empresa informou ainda que irá atender o Nordeste a partir de suas demais fábricas.

Hoje, a Parmalat tem seis unidades: Governador Valadares (MG), Carazinho (RS), Votuporanga (SP, Itaperuna (RJ), Santa Helena de Goiás (GO) e Jundiaí (SP).

Conforme fontes do setor, as quatro últimas também estão à venda, e a intenção da Parmalat é operar apenas Valadares e Carazinho. Questionada, a empresa disse apenas que sempre avalia a venda de ativos não estratégicos.

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